sábado, 20 de abril de 2013

Com quantas misérias se mata uma criança?



Comentário de uma pessoa identificada pelo nome de Tina e minha resposta no artigo de Vinícius Bocato, entitulado ''

"ESPECIAL: Razões para NÃO reduzir a maioridade penal"

http://vinibocato.wordpress.com/2013/04/14/especial-razoes-para-nao-reduzir-a-maioridade-penal/#comments



''Pobreza não é desculpa para essa “gente”
Fazer coisa errada. Sou a favor do controle de natalidade, já que não podemos nos livrar
Do problema de outra forma…
Se eles continuarem se reproduzindo como estão fazendo, vai chegar o dia que não poderemos mais sair às ruas. Eles já são maioria! O nível de educação caiu muito e agora tudo esta perdido. Os pais não passam mais valores para os filhos e respeito é coisa do passado. Sou Psicopedagoga e posso afirmar que uma criança de mais ou menos 3 anos já sabe que não pode cutucar o olho do Amiguinho ou irmãozinho. Por que então esses “menores” podem puxar o gatilho e nada lhes acontece? Deveriam SIM ser punidos, pois sabem que matar é errado! A menos que sejam doentes mentais! Alguma coisa tem de ser feita contra esses menores. Chega de por panos quentes! Cansei!''



Tina, você está correta quando diz que pobreza não é desculpa para essa gente fazer coisa errada. Não é a pobreza que gera criminosos. Não se pode colocar a culpa na pobreza por um ato criminoso. Devem ser punidos sim, crime é crime. Mas a causa da criminalidade não é a pobreza. Se você entendeu assim, entendeu de forma equivocada. Se alguem disse isso, cometeu um grande equívoco. Consulte o histórico de vida de adolescentes infratores. Conte quantos foram abusados, violentados física ou psicologicamente. Conte quantos foram rejeitados pela famíia, abandonados e desprezados pela sociedade. Imagine uma criança que vive na rua. Quem se preocupa com elas? Quem as acolhe? Quem as protege? Quem as entende? Quem está preocupado com a saúde física e mental delas? Quem está interessado pelo bem estar, pelo futuro, pela vida delas? Quem as orienta? Quem se lembra que eles ao menos existem? Quem? Quem? Não é pobreza amiga. É uma situação de miséria. Miséria econômica, social, afetiva, humana. É fome, é humilhação,é agressão física e emocional! Conte quantos desenvolveram transtornos psicológicos por conta dessas condições degradantes. Por que será que são tão frios? Por que será que não sentem compaixão pelo outro? Por que será que não estão preocupados com o bem estar do outro? Por que será que não desenvolveram uma mentalidade construtiva ao invés de destrutiva? Por que será que não desenvolveram afeto nem vínculos saudáveis e positivos com outras pessoas? Por que será que sentem ódio da sociedade? Por que será que não se preocupam em violentar o outro? Por que agem muitas vezes de forma cruel? Que tipo de experiência de vida eles conhecem? De amor, cuidado, proteção, ou experiência de sofrimento, abandono e exclusão?
Não é pobreza Tina, é o inferno que você não conhece graças a Deus, à sua família, a você mesma, a quem sempre esteve ao seu lado. A punição é correta e necessária, mas onde estamos errando?
É fácil propor redução de maioridade porque sentimos que estamos com o controle da situação, que estamos enfim agindo para reduzir a criminalidade. Mas a verdade é que estamos camuflando a negligência do Estado e a nossa própria, nossa omissão, nosso esgoísmo, nossa incompetência. Que tipo de sociedade somos? Que tipo de escândalo social estamos disfarçando? Quem está violentando quem? Essas condições de miséria, em todos os seus aspectos, irão determinar que um adolescente cometa crimes? Não, não irão. É difícil determinar as razões de um ato criminoso, por envolverem questões externas e o próprio processo psicológico. Quem vive na miséria se tornará um criminoso? Não! Não se tornará. Mas compare uma criança feliz e amada em seu lar, satisfeita em suas necessidades físicas, emocionais, pisicológicas com uma criança de rua cuja única mãe que conheceu foi a violência e abandono da sociedade. Quem tem mais chances de desenvolver idéias e atos criminosos? Quem? Quem?
Com quantas misérias se mata uma criança?


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